segunda-feira, novembro 24, 2008

O máximo que o ser humano pode ser

Viver no ponto máximo, na plenitude dos momentos e dos feelings, como dizer Olá à exaustão.
E quem assim vive, vive a dobrar - chora a dobrar mas também sorri a dobrar. É como tentar passar a margem de um rio sem reflectir os seus perigos - cair e perder mas também puder chegar ao outro lado intacto - a vida não dá tempo para pensar na intensidade.
É viver, viver todos os dias, cada vez mais, e dar tudo o que se tem, porque não há nada que faça parar o máximo que o ser humano pode ser.


«Põe o quanto és
Naquilo que fazes»


Ricardo Reis.

terça-feira, setembro 16, 2008

Póeme ser le désastre de Lisbonne, Voltaire

O homem, estranho a si, é do homem ignorado,
onde estou, onde vou, quem sou, donde tirado?
Átomos em tortura em lama que se empasta,
cuja sorte se joga e a morte então arrasta,
mas postos a pensar, e átomos que vivem,
guiados pela mente, os céus que já medirem;
ao seio do infinito aspira o nosso ser,
sem um momento só nos ver, nos conhecer.
O mundo, este teatro, orgulho e erro abalam,
e é de infortúnios só que de ventura falem.
Busca-se o bem-estar em queixas a jemer:
a morte ninguém quer, ninguém quer renascer.
Às vezes, quando a dor os dias consagramos,
pela mão de prazer se vai e como a sombra passa;
sem conta nossos são perdas, choro e desgraça.
O passado é-nos só uma lembrança triste;
e o presente é atroz, se o porvir não existe,
se a noite tumular no ser que pensa avança.
“Bem será tudo um dia”, é essa a vossa esp’rança;
“Hoje tudo está bem”, é essa a ilusão.
Com sábios me enganei e só Deus tem razão.
Humilde nos meus ais, sofrendo em impotência,
eu não atacarei porém a Providência.
Viram que outrora em tom não lúgubre cantei
do mais doce prazer a sedutora lei,
outro tempo e costume: a idade dá sejaza,
do humano extraviar partilho ora a fraqueza,
quero na treva espessa a mim iluminar,
e apenas sei sofrer e já não murmurar.
Um cálice, como a sua hora desse,
Ao seu Deus foi dizer apenas me prece:
“Ser sem limite e rei único na verdade,
trago-te o que não tens na tua imensidade,
faltas, erro, ignorância e males com pujança”.
Mas ‘inda ele juntar podia a esperança.


Voltaire,
Póeme ser le desastre de Lisbonne.

terça-feira, setembro 09, 2008

Os actos


“ (…) que se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala (…)”

Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago

segunda-feira, agosto 25, 2008

Rescaldo de uma noite de Verão

Quando o chá é partilhado por uma boa companhia, parece que tem um sabor melhor. Dois dedos de conversa numa noite de Verão, onde o vento sussurra à janela, como um amigo inesperado que bate à porta e pergunta se há espaço aqui. A brevidade dos momentos é mágica, parece que é preciso lutar contra o pouco tempo que temos para contar tudo o que há para dizer, porque há sempre algo para dizer. Uma música de fundo, que não se ouve porque a boca não se cala. Confissões de mais um dia, decisões que se vão tomar no futuro próximo e que se quer uma opinião de um amigo. Um amigo. Um amigo que preenche mais que toda a sabedoria do mundo, que tem mais cores do que o arco-íris, que encontra sempre o ponto certo para chegar a bom porto, quando quer.

E é maravilhoso chegar ao fim do dia e pensar, reflectir – que também é preciso – que, afinal, não estamos sozinhos nesta estrada, apesar de alguns trilhos difíceis de dominar, que nos metem à prova em todas as circunstâncias, há algo que prevalece. E, no fim, quem nos dizia que iríamos continuar? A força de algo que não é palpável mas que, se olharmos para dentro de nós, encontramos o seu brio – a força de uma amizade, de uma presença incontestável no nosso quotidiano que é tudo menos nosso.

sábado, junho 21, 2008

Manhãs

Manhã pintada de um sol duradouro, sem vestígios de vento ou imposições para sair e beber aquele café matinal. A esplanada de sempre mantinha-se intacta, com uma ou duas pessoas que partilharam comigo o silêncio de uma manhã de sábado. O sol estimula os sentidos, faz renascer uma sensação de liberdade, de correr o mundo. O café, sempre cheio e frio era o companheiro. O tempo passava à medida que desfilavam na avenida as crianças com os seus pais que tinham ido ao parque infantil, felizes e de sorriso aberto, as meninas com um chapéu amarelo ou cor-de-rosa, os meninos com a sua bola de futebol e o seu boné azul-escuro. Os pais, a saborearem um dia de descanso, entravam nas brincadeiras dos filhos como se eles próprios fossem crianças de cinco ou seis anos, enfrentando o cansaço de uma semana desgastante. O senhor reformado comprou o jornal; a senhora trazia na mão o pão para o almoço; o jovem passava com o guarda-sol, pronto a apanhar o comboio para a merecida praia.

Quando o sol aparece, há mais vida, mais tempo para o desfrutar a vida numa paz confortante, sozinho ou acompanhado, partilhando um gelado ou um batido, um café ou uma água fresca, à beira de água ou noutro sítio qualquer. Há momentos.

sábado, junho 14, 2008

My Explanation

There must be some explanation
To all my frustrations
Inside my head.
I've always dreamt of what I could be
And I still dream...

I know I can't change my past,
It's time to move on, at last.

I've not always been as strong as I can,
But I know that I had my ups and downs...
I lost myself yesterday...
Time moves moutains...They say...

De do de do
I'm gonna change that tonight!
De do de do
I'm gonna feel allright!
De do de do
Just as long as the stars still shine...

I've tried to do my best all my life,
But times showed me it's not enough to try,
That no one can deny...
I'm gonna get it right this time!

De do de do
I'm gonna change that tonight!
De do de do
I'm gonna feel allright!
De do de do
Just as long,
As long,
As the stars still shine...

I've not always been as strong as I can...

De do de do...

sexta-feira, junho 13, 2008

O Nosso Amor Brilhará Para Sempre


O silêncio devastador que junta todos os silêncios do mundo. Procuro em ti sangue a fluir nesse corpo que te tiram por obrigação, e somente no meio da dor vislumbro o teu rosto tão parecido ao meu, de cabelo escuro, ofegando e desejando que o sol te brilhe com a intensidade medida para mais um dia de batalhas inigualáveis. É assim que te vejo, na perdição dessa cama que te amarra e ostenta o peso do corpo, de uma cidade que não é tua nem nossa e não a quero ver mais nestas circunstâncias que pedem a calma e a perseverança.

Mas tu já não estás mais aqui e dizer que é para sempre que o nosso amor brilhará parece um destino prometido enevoado de palavras vindas do fundo. Como eu te amo e te hei-de amar sempre, não sei mais nada. Nem procuro por ti, agora que estou despida, porque tu encontras-me ao teu lado, sabe Deus onde, nem lugar sem chão nem cor nem cheiro. A tua morada é dentro de mim e acreditar na eternidade de um ser é também acreditar em mim. Constrói um caminho bom para os meus sonhos. Não sei do que é que eles são feitos e também não sei o que é que és tu. Tantos desejos te peço em lágrimas de saudade, escrevendo o teu nome numa folha de papel solta do tempo. Há vezes que não oiço mais nada que o som da vontade de te abraçar e dizer-te ao ouvido que nunca morrerás aqui dentro.

quarta-feira, junho 11, 2008

Sonhos, Sonhar, Ser

O sonho é poderoso, essência tão forte quanto é o nosso corpo e o nosso espírito. Acreditar no sonho, nos nossos sonhos, é acreditar somente naquilo que somos e no resto que ainda não é mas que, certamente, será. O sonho é um dos maiores amigos, é ele que nos faz caminhar no meio de obstáculos e vitórias, brilhos e luz, força e persistência. O sonho é água depois de ultrapassarmos um deserto, é luz durante um dia, é correr quando sentimos que não pertencemos aqui, é suar quando a luta vale a pena. Sonhar não é perder a realidade, é querer uma realidade diferente. No fundo, o sonho é o que é necessário depois deste momento, é aquilo que vem a seguir e que se esticarmos estes braços que erguem uma força imensa, vamos segurar e juntá-lo aqui dentro, para não se perder.

Quando se deixar de sonhar, perdemo-nos, porque “sonhar é viver, e quem não sonha não vive, sobrevive”. Batalhas e ultrapassagens de impasses e compassos de tempo que a vida implementa são fruto do nosso sonho, da nossa conquista por algo que é nosso mas não sabemos tocar. E é tão belo o sonho, é tão belo o que sentimos dentro de nós, como uma voz presente e que ao mesmo tempo é tão mágico que não sabemos tocar devagarinho, no fim de uma noite de luar.

No meio de gentes perdidas, de gentes que não sabem onde e como caminham, existem outras gentes que desde sempre acreditaram nos seus sonhos. E claramente esses serão mais felizes, porque trazem consigo um olhar de esperança, de garra e de luta por aquilo que se anseia num futuro próximo. Fugir à saudade, àquilo que deixámos para trás para sermos maiores que ontem faz também parte do sonho. Para sonhar não importa a idade, nem o sexo nem a religião, basta ser-se. Sonhar é ser mais, é ser superior e repletos de felicidade são aqueles que sabem sonhar, que sabem sentir a pujança de um simples sonho que vive ao nosso lado e que não o largamos, como um grande amigo que jamais esqueceremos, por mais difícil que seja o toque em algo que não conheçamos a sua cor, a sua textura e o seu cheiro.

Se eu “pegar todas as horas os meus sonhos”, a vida sorrir-me-á como uma criança que acaba de comer um gelado no fim de um dia de calor, porque o sonho é nunca esquecer quem realmente somos. Agradecimento àqueles que sabem sonhar e que sentem o poder dos sonhos, agradecimento àqueles que nunca deixaram de acreditar nos sonhos e que, subtilmente, me incutiram o hábito de nunca deixar de acreditar no amanhã.

domingo, junho 01, 2008

Política & Juventude

Quando procurei a definição do termo “política” encontrei o seguinte – “sistemática das diferenças e semelhanças de um grupo social, eticamente definida por princípios de autoridade, assentes nas estruturas de suporte do poder, que é aplicada a uma sociedade organizada em estado autónomo”. Esta definição foi retirada de um dicionário que estava parado no tempo, entre o pó e o esquecimento da minha sala. Tantos mais dicionários existem para nos elucidarem sobre conceitos e expressões que queremos encontrar a sua definição, mas aquele que é mais importante está dentro de nós próprios, um dicionário é que feito de experiências, visões e posições que temos/tomamos ao longo da vida.

Ao aplicamos a palavra “política” numa conversa, mesmo que banal, deparamo-nos com várias expressões faciais – ora uma cara de desinteresse, ora outra de desilusão, ora mais outra de ignorância. Aqui fundem-se os elos mais importantes desta temática – na sociedade actual predominam o desinteresse, a desilusão e a ignorância. Uns porque “sentem na pele” a falta de leis ou a sua excessiva aplicação, outros porque estão desiludidos com a política dos nossos políticos, outros que se afundam na ignorância e não querem perder tempo das suas vidas ocupadas para compreender a política.

Actualmente, os jovens, na sua maioria, não se preocupam com as questões desta temática visto que: (ainda) não sentem, mesmo que indirectamente, se encontram envolvidos nesta esfera, ao verem a forma como a política é gerida fá-los desinteressarem-se, o impacto das novas realidades aliadas às Tecnologias da Informação e da Comunicação, assim como as novas formas de ocupação dos seus tempos livres se dão num rodopio e são mais importantes e divertidas do que a preocupação e a investigação nesta vertente, as dúvidas que alguns mais cépticos criam em torno do papel da juventude partidária (e não só), na política nacional, fá-los parar pela insuficiência das ideologias dos partidos porque “giram o disco e tocam o mesmo” – as promessas guardam-se na gaveta quando se senta o corpo na cadeira do poder – e tantas mais razões que se traduzem na ignorância, no desinteresse e na desilusão em que a sociedade se insere.

Combater estes processos é, também ele, um processo complicado e demorado. Haveria diversas formas, umas mais fáceis, outras ilusórias. Pessoalmente, partilho da opinião de que se deveria criar uma vertente educacional nas escolas com o objectivo de combater o desconhecimento, o desinteresse e a ignorância que reina em prol da “política”; uma acção contínua de cidadania, de carácter obrigatório, complementar e, ao mesmo tempo, existir um acompanhamento profissional especializado, de modo a que se possa cooperar nas iniciativas dos jovens, estes que farão parte da equipa política do futuro.

A vida é feita de exigências, de partilhas de experiências, de aprendizagens e dar a aprender o que já aprendemos. No fundo, um conjunto de conhecimentos e práticas que, se existirem, farão com que o desconhecimento dê lugar ao conhecimento, que a ignorância ganhe luz e que a desilusão encontre uma nova realidade.

quinta-feira, maio 01, 2008

Comércio Justo & Alternativo

O mundo actual encontra-se dominado pela plutocracia, incutido nos princípios do lucro e da competitividade. O predomínio da conjuntura Norte-Sul apenas pressupõe o aumento da prosperidade económica dos ricos e dos influentes e o contínuo empobrecimento dos mais desfavorecidos.

Vivemos num mundo onde os grandes centros económicos continuam a implementar-se, com barreiras invisíveis, e as trocas comerciais galopam em torno da riqueza e do consumo exacerbado. Este é o mundo actual. E onde se insere a defesa dos Direitos do Homem? Como é que nós, consumidores presentes num processo à escala mundial, podemos concordar em beneficiar os senhores do mundo, e estes, ao mesmo tempo, continuarem a construir a sua riqueza à custa da pobreza alheia? Como é que nós, consumidores à escala global, compramos produtos, alimentares ou não, que são fabricados num determinado grupo de países, sem se olhar ao modo como são fabricados, nem por quem são fabricados, e muito menos as circunstâncias do seu fabrico?

Em pleno século XXI, pede-se constantemente o olhar, cada vez mais crítico, numa temática com que lidamos diariamente. Num período em que falamos em energias alternativas, podemos também questionar um tipo de comércio alternativo, cujos princípios não assentam no lucro e na competição, mas sim que encurtam a dicotomia Norte-Sul predominante. Num período em que a preocupação mundial se centra na questão ambiental, na racionalidade da utilização dos recursos fósseis e na diminuição de emissões de gases com efeito de estufa, porquê não pensar também em modificar hábitos e comportamentos enquanto consumidores, para melhorar a “nossa casa”?

Com este artigo, pretendo alertar a sociedade da existência de um outro tipo de comércio. Alternativo? Que seja. Um tipo de comércio que respeita e se preocupa com as pessoas e com o ambiente, que cria meios e oportunidades para os produtores (locais na sua maioria) melhorarem as suas condições de vida e de trabalho, que tem uma posição proteccionista dos direitos humanos, nomeadamente das mulheres e das crianças que são vítimas de abusos das leis laborais noutros tipos de comércio e produção, que promove a igualdade de oportunidades das trocas comerciais entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento e, sobretudo, que promove a sustentabilidade desses mesmos produtores através do estabelecimento das relações comerciais estáveis de longo prazo. Falo, portanto, do Comércio Justo, um tipo de comércio que fomenta todos estes factores, cada vez mais importantes, e que merecem especial atenção para qualquer tipo de consumidor.

Existe uma circularidade da questão – o predomínio da dicotomia Norte-Sul (países desenvolvidos vs países em desenvolvimento), apesar da existência de novas práticas comerciais alternativas.

Queremos, sem dúvida, um mundo melhor, mais justo, mais humano. Vamos mudar este mundo que é nosso, mesmo que seja por um dia, porque um dia pressupõe outro dia, e como o meu querido Zeca Afonso dizia, “seremos muitos, seremos alguém”.

sábado, abril 12, 2008

Move!

Se a insensibilidade é estado de viver, crença na leveza do ser não constantemente preso ao segundo, faz-te pessoa dessa partícula. Encontrar-te mais, não consigo, não quero. Sinto-me bem em ti, no fabrico de partículas que se juntam para te criarem em mim. Não quero perder-te, nem a ti, nem a mim. A tua voz vale muito e tanto daquele todo que não te consigo explicar, e também não o quero. Sentimos a força das palavras e do toque que nos juntam por dias infinitos, na luz do sol que nos aquece, na luz do frio que nos distancia em momentos que não se entendem mas que fazem parte da bola, daquela bola de neve que cresce como um filho. Damos as bases e a estrutura faz-se sozinha, sem receios de ser mais que ontem. No meio da banalidade dos dias, esqueces-te de seres mais, e dás voltas a uma rotunda sem fim à vista, na constante fuga de te dares. Mas a tua forma de me amares fascina-me e assusta-me a vontade de te ver o sorriso e ouvir os teus passos junto aos meus.

Move…

quarta-feira, abril 02, 2008

Hábitos Alimentares, hoje

Actualmente, é deveras reconhecida a importância dos hábitos alimentares e dos estilos de vida saudáveis na sociedade, com especial relevo para a população infanto-juvenil. O reconhecimento da questão é encarado através de campanhas de sensibilização de que as crianças e jovens são alvo, começando pelos procedimentos impostos pelo Governo ao proibirem a comercialização no recinto escolar de produtos com elevados teores calóricos e a consequente implementação de alimentos de dose saudável, os diversos projectos desencadeados por professores e pelos próprios alunos (ao nível da disciplina da Área de Projecto, no Ensino Básico e Secundário).

Em certa medida, com a implementação destas regras surgirão novos índices positivos nesta temática, mas pensemos – ao contrariarem um jovem a não consumir chocolates, batatas fritas, refrigerantes, esse mesmo jovem não terá a necessidade de contrair o que lhe foi imposto? Os cafés existentes nas proximidades das escolas é que lucrarão, muito provavelmente. Digamos que deveria existir bom senso por parte do nosso Governo no que diz respeito aos locais apropriados para a incrementação da lei, num modelo onde as escolas primárias seriam o foco principal, pois as crianças são aquelas que merecem principal relevo. Proibir não será, certamente, o meio mais fácil para chegar à realização das soluções que se querem positivas.

O que se denota mais fulcral, e que nem sempre acontece, são o mesmo tipo de campanhas que deveriam existir na nossa própria casa. Ora, se num local onde uma criança reside a maioria do seu tempo não existem hábitos alimentares correctos, como é que o Governo pretende implementar condutas de aniquilamento ao consumo de alimentos dispensáveis à saúde? A menos que a sua política vise um enovelamento da questão, ou seja, que sejam as crianças a ensinar os pais a ter uma alimentação equilibrada, visto que na escola a têm e em casa não. Serão as crianças capazes de incutir interiormente esses comportamentos e consequentemente implementá-los na sua casa? Certamente que sim, quando se incutem hábitos de variadas géneses a crianças, a sua percepção e efeito tornam-se mais tarde enraizados nos seus comportamentos. Mas, será o Governo uma entidade de grande foco capaz de requerer a abolição dos mesmos produtos alimentares referidos? Falando numa perspectiva de idades mais avançadas – ou não será uma tentativa de intervirem na vida e nas escolhas pessoais de cada um?

O que se sucede nos dias de hoje é a mudança dos hábitos alimentares, não só nos jovens mas também nos adultos – a dieta tradicional tem vindo a dar lugar a uma dieta ocidental, onde os fastfood frequentemente são preferidos. Considero que esta mudança de comportamentos deve-se a dois factores: o primeiro, a existência galopante deste tipo de alimentos, denominados rápidos e práticos e que traz por detrás uma contínua e exorbitante publicidade e marketing, onde os jovens, uma vez mais, ganham um valor de destaque. Por outro lado, não podemos esquecer que estes tipos de alimentos não têm um preço muito avultado, o que vai certamente ao encontro dos desejos da nossa sociedade. Mas, apesar de tudo, encaro as escolhas alimentares mais influenciadas pela variedade de produtos do que pelas motivações pessoais de cada indivíduo.

Pessoalmente, considero que os hábitos alimentares, como qualquer outro comportamento subjugado à vontade pessoal de cada indivíduo, deverá ser respeitada e considerada, mas, como é óbvio, falando de casos em que o mesmo já detém uma certa maturidade e consciência do seu modo de vida. No fundo, o problema principal reside no facto de que não deverá ser permitido amaciar a questão às crianças da nossa sociedade, mas, por outro lado, nas devidas medidas, ser dado uma certa liberdade a outras faixas etárias que tenham como objectivo, voluntário ou involuntário, a prática alimentar incorrecta. No entanto, deverão continuar a surgir, cada vez mais, as ditas campanhas de sensibilização, com esse mesmo intuito, sensibilizar, mas não a realização de movimentos por parte de quem está de fora, numa tentativa constante de modificar algo que está subjugado à escolha individual. Com a exposição deste tema não desvalorizo, de certa forma, a postura inerente ao nosso Governo; o que deverá ser repensado são os locais apropriados para a incrementação destas medidas que encaro positivas.

domingo, janeiro 20, 2008

Haja o que houver...

"Haja o que houver, eu estou aqui",

Esta passagem requer alguma ponderação no seu emprego. Trata-se de uma sobrevalorização de algo ou alguém que está intimamente ligado à superioridade de um ponto com outro. Teremos de meter em questão os valores e os motivos pelos quais nos regemos quando valorizamos algo acima de tudo, criando indirectamente uma escala de importância entre pessoas, que normalmente conhecidas na esfera íntima de cada um terão a importância idêntica entre si. No entanto, em casos concretos da afectividade e intimidade, não é isso que acontece. Surgem pessoas mais importantes do que outras, momentos pelos quais vamos estar lá quando formos chamados, quando formos necessários e responderemos afirmativamente, ultrapassando outras pessoas ou outras situações, que nesta medida estão diminuídas de valor momentâneo. Trata-se, pois, de uma atitude de extremos e posições. Será complicado elaborarmos um esquema mental em que vamos inserindo as pessoas da nossa intimidade numa escala de importância. Requer, acima de tudo, confiança nessa mesma relação, para que, por alguma eventualidade, não respondamos positivamente ao chamamento, não haja desilusões, ou, por outro lado, quando formos nós próprios a fazer o mesmo chamamento, não aconteça o mesmo. Resume-se então a um risco acrescido nas relações pessoais que todos temos, porque somos humanos e não nos caracterizamos pela imunidade e indiferença perante o outro.

Existem diversos tipos de pessoas cujos comportamentos divergem. Há aquelas que não constroem a tal escala de importância, aqueles que preenchem a esfera pessoal estão ali, individualmente, característicos de uma importância medida através do afecto que se tem pelas pessoas em questão, cada um à sua maneira, visto que todas as pessoas são diferentes e daí surgir também a diferença no seu comportamento. Outras tentam forçadamente não criar a escala de importância, mas por circunstâncias inexplicáveis pela lógica humana, criam-se, directa ou indirectamente. Por exemplo, quando uma pessoa admite para si que a pessoa x irá estar naquele momento quando for necessário ou chamada de uma forma indirecta, cria-se assim a escala de importância, em que naqueles momentos concretos a pessoa x irá estar ali porque não haveria razão para não estar. Por fim, existem aquelas pessoas que criam decididamente essa mesma escala de importância, valorizando e sobrepondo umas pessoas às outras, sendo este o factor de risco como referido em cima. Traduz-se então numa coerência e plena confiança na pessoa em questão, visto que está valorizada acima dos outros e isso acarreta alguma responsabilidade, pois estará nos momentos certos de alma e coração, correndo e sobrepondo-se aos outros.

Visto que a liberdade está ligada a tudo o que nos diz respeito - e bem presente nas nossas atitudes e comportamentos, pensados ou não - podemos usufruir dela quando desejarmos e entendermos. Tudo isto centra-se no ponto principal da questão: sou livre de exercer os meus ideais e ninguém terá capacidade para os cessar, pois os valores humanos estão bem patentes.