Actualmente, é deveras reconhecida a importância dos hábitos alimentares e dos estilos de vida saudáveis na sociedade, com especial relevo para a população infanto-juvenil. O reconhecimento da questão é encarado através de campanhas de sensibilização de que as crianças e jovens são alvo, começando pelos procedimentos impostos pelo Governo ao proibirem a comercialização no recinto escolar de produtos com elevados teores calóricos e a consequente implementação de alimentos de dose saudável, os diversos projectos desencadeados por professores e pelos próprios alunos (ao nível da disciplina da Área de Projecto, no Ensino Básico e Secundário).
Em certa medida, com a implementação destas regras surgirão novos índices positivos nesta temática, mas pensemos – ao contrariarem um jovem a não consumir chocolates, batatas fritas, refrigerantes, esse mesmo jovem não terá a necessidade de contrair o que lhe foi imposto? Os cafés existentes nas proximidades das escolas é que lucrarão, muito provavelmente. Digamos que deveria existir bom senso por parte do nosso Governo no que diz respeito aos locais apropriados para a incrementação da lei, num modelo onde as escolas primárias seriam o foco principal, pois as crianças são aquelas que merecem principal relevo. Proibir não será, certamente, o meio mais fácil para chegar à realização das soluções que se querem positivas.
O que se denota mais fulcral, e que nem sempre acontece, são o mesmo tipo de campanhas que deveriam existir na nossa própria casa. Ora, se num local onde uma criança reside a maioria do seu tempo não existem hábitos alimentares correctos, como é que o Governo pretende implementar condutas de aniquilamento ao consumo de alimentos dispensáveis à saúde? A menos que a sua política vise um enovelamento da questão, ou seja, que sejam as crianças a ensinar os pais a ter uma alimentação equilibrada, visto que na escola a têm e em casa não. Serão as crianças capazes de incutir interiormente esses comportamentos e consequentemente implementá-los na sua casa? Certamente que sim, quando se incutem hábitos de variadas géneses a crianças, a sua percepção e efeito tornam-se mais tarde enraizados nos seus comportamentos. Mas, será o Governo uma entidade de grande foco capaz de requerer a abolição dos mesmos produtos alimentares referidos? Falando numa perspectiva de idades mais avançadas – ou não será uma tentativa de intervirem na vida e nas escolhas pessoais de cada um?
O que se sucede nos dias de hoje é a mudança dos hábitos alimentares, não só nos jovens mas também nos adultos – a dieta tradicional tem vindo a dar lugar a uma dieta ocidental, onde os fastfood frequentemente são preferidos. Considero que esta mudança de comportamentos deve-se a dois factores: o primeiro, a existência galopante deste tipo de alimentos, denominados rápidos e práticos e que traz por detrás uma contínua e exorbitante publicidade e marketing, onde os jovens, uma vez mais, ganham um valor de destaque. Por outro lado, não podemos esquecer que estes tipos de alimentos não têm um preço muito avultado, o que vai certamente ao encontro dos desejos da nossa sociedade. Mas, apesar de tudo, encaro as escolhas alimentares mais influenciadas pela variedade de produtos do que pelas motivações pessoais de cada indivíduo.
Pessoalmente, considero que os hábitos alimentares, como qualquer outro comportamento subjugado à vontade pessoal de cada indivíduo, deverá ser respeitada e considerada, mas, como é óbvio, falando de casos em que o mesmo já detém uma certa maturidade e consciência do seu modo de vida. No fundo, o problema principal reside no facto de que não deverá ser permitido amaciar a questão às crianças da nossa sociedade, mas, por outro lado, nas devidas medidas, ser dado uma certa liberdade a outras faixas etárias que tenham como objectivo, voluntário ou involuntário, a prática alimentar incorrecta. No entanto, deverão continuar a surgir, cada vez mais, as ditas campanhas de sensibilização, com esse mesmo intuito, sensibilizar, mas não a realização de movimentos por parte de quem está de fora, numa tentativa constante de modificar algo que está subjugado à escolha individual. Com a exposição deste tema não desvalorizo, de certa forma, a postura inerente ao nosso Governo; o que deverá ser repensado são os locais apropriados para a incrementação destas medidas que encaro positivas.

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