Excerto do meu livro, Encontros.
terça-feira, dezembro 19, 2006
Excerto
Excerto do meu livro, Encontros.
segunda-feira, dezembro 18, 2006
Desculpa, não quero sentir mais
Desculpa mas agora não quero sentir mais. Pára o relógio do tempo. Muda o sentido do teu vento. Agora não tenho coragem de te sentir mais. Perdoa o meu medo. Deixa os teus passos no mesmo chão. Não mudes a cor da tua pele, será sempre assim. Fica perto do piano. Toca para mim, para o silêncio. Continua assim. Mas agora desculpa porque não quero sentir mais. Não vou conseguir preencher todas as linhas brancas do mundo. As palavras são mais importantes que isso. E não vou sentir mais. Não deixes a fonte secar nem deixes que o sol se perca. Mas eu agora não quero sentir mais. A música terminou.
segunda-feira, dezembro 11, 2006
Talvez tivesse de ser assim
Numa tarde de domingo, fria e chuvosa, parei numa perfumaria de um centro comercial qualquer e comecei a procurar o ‘teu’ perfume. O teu cheiro, apenas teu. Ao encontrá-lo, fiquei nele durante algum tempo. Decidi não levar uma amostra do perfume nos papeis respectivos da perfumaria para não ficar pendente mas depois pensei que o mesmo perfume ficar-me-ia na memória da pele o resto do dia. Levei. Corri o centro comercial todo a cheirar-‘te’.
Tu, ainda és tão importante em mim que não perdi o sentido de coisas tuas, de coisas banais, tuas. Ainda oiço a música, ainda cheiro o perfume. Ainda tenho uma fotografia tua no meu placar, no meu canto. Ainda tenho o teu número de telefone e o teu e-mail. Ainda me lembro do teu sorriso e do teu cabelo. Do tom da tua pele e do contorno dos teus lábios. Do jeito e do carinho. Da ternura e da timidez.
Tu, fazes parte. Não se apagam velas que permanecerão hirtas ao sopro da saudade. E a sua cera será, contudo, os rastos de recordações deixadas ao acaso, num lugar qualquer.
Um dia telefono-te, haveremos de nos voltar a ver.
Talvez não tivesse de ser assim.
sábado, outubro 21, 2006
Obrigado pela história de papel
Vais contando os teus números. Dás voltas no teu mundo, em voltas e rodas singulares, não sais do mesmo sítio. Deixas o perfume em cada palavra e cada palavra sabe sempre diferente. Não tens de te esconder pois eu não te quero procurar mais. E o que tens escrito no coração ninguém conseguirá apagar. Obrigado pela história de papel.
quarta-feira, outubro 11, 2006
A tua voz sabia-me a saudade

segunda-feira, outubro 02, 2006
Até à proxima saudade

Como quem pede perdão inocentemente pelos sentimentos causados, vindos de um poço fundo, seco, escuro e sem vida. Foi daí que eu vim e trouxe-te pela mão. Não tenho a certeza se te irei deixar no mesmo lugar, ao abandono dos meus gestos e das minhas palavras solenes. Mas acredita quem eram tão tuas como esta é a minha chama. No meio deste mundo perdido de singulariedades, onde andas tu? Não foi preciso largar-te da minha mão, deslizaste sorrateiramente entre o toque e o tempo que nos pausa os olhares. Eu preciso de ti como quem precisa algo semelhante a ti, com duas mãos, dois olhos, um nariz e uma boca. Isso não me importa. Vem como quiseres, procura apenas o teu pequeno lugar, em busca do que deixaste para trás. Seria inutil nao te pedir nada até porque necessito. Quero pedir clemência por pisar novamente o chão da saudade, que de certo nos vai devorar o aconchego mal feito dentro de nós. Agarro cada silêncio onde tu permaneces. Com a mesma melodia, acordo o perfume dos momentos brandos, cheios de emoção e tudo retoma. Afinal, quero a proximidade. Não sei de quem foi a culpa ou se existem culpados para a pura decadência, semelhante de tantos. Acabou o som das minhas palavras. Até à próxima saudade.
segunda-feira, julho 03, 2006
Entre o ontem e o hoje

A saudade aperta quanto mais perto se fica. O tempo enrrola-se na ansia de ver o que ficou para trás. As palavras não fazem sentido quando o coração aperta e a ansiedade cai em nós. Tudo é extremamente forte ao ponto de influenciarem os momentos, invadidos por uma liberdade de querer enorme.
Ainda existem coisas que não se encontram com os olhos mas que se sentem com o coração. Talvez seja esse o segredo para voltar, como uma chamada e quem não está presente tem falta de comparência no mundo perdido dos divididos entre o ontem e o hoje.
domingo, julho 02, 2006
Guia-me música

Guia-me por caminhos de sons tocados, entra dentro de mim e protege o meu coração com as músicas mais bonitas que há no Mundo. Transporta os acordes, ilumina-me o caminho com o som, procria notas e melodias, baladas sentidas e timbres rastejantes, sempre do meu lado. Foca-me o equilíbrio, não me prendas e não me cegues. Eu encontrei-te Oh Música, minha música.
Agora não te consigo largar, estás dentro das minhas veias, o teu ruído corre-me nos sentidos, não te consigo ver Música, mas sinto-te, e sinto-te muito. Devagar, um dia de cada vez, um momento de cada maneira. Estás em todo o lado. Eu sinto-te e posso dizer que faço parte de ti. Guia-me Música. Gere o meu timbre. Cria-me os sentidos. Em acordes, desmedidos.
terça-feira, junho 27, 2006
Pontos Brilhantes

Estava sentada num pequeno banco de jardim, daqueles antigos e feitos de pedra. Saboreava um fim de tarde deixada ao acaso entre mim e o resto do resto do mundo. Olhava para o horizonte e contava cada ponto que brilhava na água. Cada ponto brilhante fazia-me lembrar cada saudade perdida no passado. Recordei cada cheiro e cada lágrima caída no chão pela saudade que sentira. O passado era apenas uma caixa onde guardava memórias escritas na alma e eram lembradas. O mundo continuava a sua rotina mas eu não conseguia largar os pontos brilhantes. Algo me puxava para sentir novamente tudo o que meti atrás das costas ou que o tempo se encarregou de enviar para longe. De ficar tanto tempo agarrada às memórias, o sol desvaneceu-se e os pontos brilhantes dissiparam-se daquele rio imenso. O passado voltou ao seu lugar mas deixou a sua fragrância, aquilo que deixei para trás e me recordou do que fui, do que deixei e como parti.
domingo, junho 25, 2006
Doce alma
Juro que tentei negar, desde muito cedo, o brilho dos teus olhos que vislumbrava ao longe como se fosse pecado passar eternidades a olhar-te. Juro que tentei deixar de lado o teu jeito descontraído, sorriso sempre patente e ofegante. Juro que não queria ouvir a tua voz suave mas grossa mutuamente. Juro que não te queria olhar cada vez que tu passavas por mim e eu por ti; quando para ti eu era uma pessoa como as outras e tu para mim transportavas um brilho, cada vez maior.Esta é a primeira carta que te escrevo, doce alma que rogo perdão por ter sido atraída por alguém como tu. Gostava de me aproximar, de ganhar mais de ti. Contudo, agora é difícil. Não sei se gostas de gelados de morangos, se gostas do Verão, se gostas de vermelho ou azul. Sei apenas aquilo que trazes fora de ti, sei de olhos fechados o linear dos teus lábios e a cor dos teus olhos. Oiço os teus passos quando ainda nem tocaste no chão. Eles são o som mais suave, o toque mais doce.
Dou por mim a ajeitar o cabelo quando te vejo ao longe, sentindo o coração bater como acontece nos filmes.No fundo, tudo parece uma montanha pela qual vou escalando, agora sozinha e com medo de cair. No fundo, sinto-me bem gostar de uma pessoa como tu.
sexta-feira, junho 23, 2006
Finges silenciosamente

Finges não ter cor, seres distante, ar frio, dócil, escondes o que não queres mostrar e vais andando por aqui e por ali, sem noção que deixas um rasto doce e não amargo como pensas tê-lo.
Por momentos vou entendendo o quadro que tentas pintar, mas faltam-te as cores da realidade. Preenches a tela com algo que não o és nem tão pouco o serás. Tens medo que renasça outra pessoa em ti, a pessoa que no fundo há em ti. Um dia disse para mim que iria encontrar-te e estou a consegui-lo. Faz-me bem ao ego encontrar o verídico das pessoas ao invés de procurar a felicidade escondida, como alguns fazem.
Acabas por deixar ficar certos olhares em mim, certas palavras, certas coisas que só eu consigo desmistificar dentro desse teu código silencioso. Finges não sentires nada por ninguém, tudo te passa ao lado mas às vezes deixas escapar alguma coisa que me faz ver-te por dentro. E continuas a fingir silenciosamente, como se nada se passasse. Porque pareces ter medo de mostrares ao mundo que és de vidro, que te partes, que cais e voltas a subir. Não és mais que os outros pobres mortais. Somos feitos com as mesmas cores, com os mesmos defeitos e as mesmas qualidades.
No fundo não desejo sair de onde estou. E acho que deixo escapar-me pelas mãos o que ainda não agarrei.
quinta-feira, junho 22, 2006
Casa

Onde o pouco que é concebido chega para satisfazer as necessidades humanas e depois o portão que divide um mundo do Mundo. Queres entrar lá dentro? Não estás preparado. Tu, que tens tudo… ali existe o nada. Paredes quase a ruírem, o chão pisado por um número de pessoas, ficando nada. Os destroços. O vazio. O desgastado. Mesmo assim, a curiosidade é grande, não é? Então entra, entra mas bate à porta, lá vive um velho. Ele vai-te contar uma história, a história que Tu não sabes. Vai pegar nas palavras e moldá-las, falar não por falar, falar porque quer que Tu saibas. Ali, naquela casa, existe vida. O vazio vive com a solidão, o fracasso com o desespero e a dor com a melancolia. O velho, é o homem. O homem que segura e sente simplesmente a tristeza. Porque é necessário o homem existir para dar continuidade aos sentimentos, mesmo que sejam os piores. E Tu entraste. Que saias com a mesma perspicácia com que invadiste o alheio.
quarta-feira, junho 21, 2006
Desencontros

"Vejo-me em sonhos como um pássaro negro, crepuscular, alimentando-se nas sombras, nos desperdícios, nos destroços, das vidas alheias. Mas, afinal, o que se leva da vida, senão remorsos? Remorsos do que podia ter sido e não foi e do que se perdeu depois de ter sido. Remorsos do que devia ter sido dito e feito e não o foi a tempo ou do que foi demasiadamente dito e feito. Remorsos destes eternos desencontros, desta sensação de que nada existe no seu tempo certo, de chegar sempre tarde ou partir cedo demais. Porque será que a seguir à noite vem sempre a manhã e de manhã pesa sempre nos olhos e na alma o que se fez e desfez de noite – um corpo húmido deixado num lençol de seda e o ladrão furtivo desse corpo abandonando o quarto que não é seu, em direcção ao vazio de tudo o que lhe pertence, inutilmente?"
Não te deixarei morrer David Crockett
Miguel Sousa Tavares
terça-feira, junho 20, 2006
Bebe...

segunda-feira, junho 19, 2006
Alma resplandecente
Alma resplandecente
Coração sensível
Sons de uma mente
Vida só de ida.
Os olhos cegam-me com tanto sufoco
As mãos perdem a acção por um pouco
Visões perdidas, beijos por dar,
Meu Amor, eu sou fogo, tu és mar.
Perco-te por instantes
No meio da multidão de gentes
Cada pedaço teu triunfante
Neste poço de desencontros dependentes.
Não me sorrias, não me toques
Pois nem sabes que existo
Pergunto-me desesperadamente
O porquê deste presente que conquisto.
Não importa ser ar ou vento
Paixão transparente
Alma resplandecente
domingo, junho 18, 2006
Nome sem cor
Ao invés de escrever o teu nome na areia molhada que me rodeia, gravei-o no meu peito onde nenhum Homem será capaz de tocar. Sítio rodeado de muralhas, sagrado e secreto que uso como uma fuga à tua saudade. O teu nome não tem cor. É transparente como estas palavras que nunca as irei proferir nem nunca sairão da minha gaveta. São tão importantes que não se mostram a este ciclo mundano em que, umas vezes se criam sentimentos, e, outras vezes, imagens semelhantes mas controversas.Ao acaso, por momentos distantes no tempo em que vou deixando a minha fragrância no teu nome sem cor, agarro cada letra como se fosse manjar de um pobre. Não existe mapa para lá chegar. Não há caminho nem direcção. Não há fuga nem destino. Pouco sabes que mal vou existindo, escondo-me por detrás do resto mas acabo por fazer a diferença, a minha voz soa mais alto.
sábado, junho 17, 2006
Escritor

Amante profundo, como quem escava uma gruta, paixão ardente desenhada por palavras que vão sendo o fogo que arde, o prazer que se mantém e supera tudo e todos. Jovem feliz, olhando aquilo que ainda não conseguiu vislumbrar, caindo no passeio de ruelas históricas, manchadas de batalhas e guerras travadas. Autor de um livro, de uma vida, de uma quimera incontrolável e poderosa que ataca sem piedade. O mundo, cada vez mais achatado porque o vão destruindo, bola redonda tipo uma bola de berlim. Mas a bola do mundo não é tão doce, tem um cheiro amargo. Reflexos que se armam em inocentes, espelhados em paredes onde a fé era a palavra chave, onde o amor vencia, pequenas sequelas quase findas. Quadros por preencher, vitórias por vencer, lágrimas por chorar.
O escritor tenta procurar no ínfimo lugar de cada mundo a sua razão de fazer fluir palavras e juntá-las septicamente. Difícil é acreditar que esses escritores existem e vão, de uma maneira ou de outra, procurar a fonte de equilíbrio para alguns se debaterem contra algo que os faça parar e pensar. Difícil é encontrar o escritor dentro de nós, com brio e vivacidade.
Escritor que te enrolas nas palavras, escondes-te do mundo através de cada letra. Escritor que vês passar uma multidão, ninguém pára e ninguém olha para ti, tão igual aos outros; mas quando é o momento de te lerem, todos param, escutam e por aqui ficam. Eles não te querem maior nem mais pequeno. Querem-te assim da forma que sustentas os textos que dão outra vida à própria vida.



